Maria da Glória
- Um Domingo em Coimbra
Hoje deu-me o desejo de castanhas assadas. Resolvi sair de casa e ir a pé até à Praça 8 de Maio. Passei pelo jardim do vizinho dos limões, onde tenho autorização para apanhar quando preciso.
Um limão depois, segui pela Arregaça até à antiga linha do comboio para a Lousã, onde ainda existem as placas do "Pare, escute e olhe".
Tiro uma fotografia. De repente aparece no visor uma senhora, cabelo loiro, óculos escuro, carteira Chanel e elegantemente vestida com um saia e casaco em tons de azul escuros e um lenço azul turquesa ao pescoço.
Dou os bons dias e pergunto se indo pela linha do comboio existe outra saída antes do parque? Ela diz-me que o melhor é ir pela rua lateral, que é mais bonito, e como vai para casa indica-me o caminho. Lá fomos as duas em amena conversa. Fez há dois dias 80 anos, tem dois filhos e netos, vive no prédio cor de rosa ali mais abaixo. Vem da missa da Igreja de S. José, pois os dias da semana não podem ser todos iguais e o domingo é para ir ouvir a missa. Foi modista nos tempos em que se fazia tudo por medida e recorda como as clientes vinham para fazer os vestidos da Queima das Fitas, para mães e filhas. O fato que traz, claro, foi confeccionado por ela. Muito mais conversámos mas fica entre nós. Trocámos telefones e prometi voltar para ver as revistas antigas de moda e ouvir mais histórias. Adorei.
Tenho mais uma amiga, a Maria da Glória.
E lá fui até às castanhas.
Uma dúzia um euro.
Seis tinham bicho e fui gentilmente reclamar mas não aceitaram a minha reclamação porque eu era a primeira a queixar-se!!! Toda gente diz serem muito saborosas.
Lá isso é verdade: as boas são muito saborosas, as outras têm bicho.